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Humilhado. Exaltado!

agosto 3, 2010

Foi assim durante grande parte da minha infância. Volta e meia eu trazia da escola pra casa alguma “novidade”, resultado do que eu chamava de “grande negócio”: uma blusa de frio (que eu não tinha idéia do valor… não fui eu que paguei) por um brinquedo (na maioria das vezes, quebrado), um relógio por duas ou três revistas em quadrinhos, uma caixa de lápis de cor por praticamente qualquer coisa que me oferecessem. Eu me lembro muito bem da satisfação de trocar aquelas coisas (que eu não me interessava) por outras tão mais legais. Me lembro do sorriso de orelha a orelha e do aperto de mãos de “negócio fechado”. Mas não durava muito. Minha mãe sempre foi extremamente atenciosa com minhas coisas. Cuidadosa. E por mais que demorasse, por mais que eu tentasse adiar a ocasião, a pergunta sempre vinha: “Thiago, onde você conseguiu isto?” ou “De quem é esse brinquedo, onde está o seu?”. Era mortificante. Quase que imediatamente após eu tentar demonstrar, como um vendedor que tenta vender vantagens fáceis,  o sucesso da minha troca, do meu negócio, minha mãe secamente exigia: “Volte lá e desfaça o que você fez”. Ah, que sentença absurda, que inquietação. “Como assim, voltar atrás?”, “negócio é negócio”, “por favor, não…”, certamente eu teria preferido receber qualquer punição no lugar do humilhante “Vá lá e desfaça agora!”. Era como trair a palavra, era um tapa no meu pequeno orgulho. Mas minha mãe dizia que não era justo. Eu não entendia essa justiça, mas no fim ela sempre venceu e todas as coisas que eu troquei, negociei, vendi, foram recuperadas.

Justiça. Porque o caminho da justiça tinha que passar pelo vale da humilhação? “O que fulano iria pensar?”, era a minha crise. O pior era ter que ceder à autoridade que havia sobre mim, e que ainda podia até mesmo atingir minhas próprias coisas. Eu não era, então, tão dono de mim assim. “Isso não é justo”.

Justiça. Minha mãe estava me ensinando que, quando o assunto é palavra dada, precisamos ter cautela, sabedoria, prudência, respeito ao outro (porque as vezes, raras vezes, era eu quem levava vantagem ), bondade e simplicidade para voltar atrás. Ela estava me guiando, ainda que forçosamente, ao caminho do arrependimento no tempo devido (porque há coisas, sabemos, que simplesmente não voltam mais).

Justiça. Tantos episódios infantis de pequenas demonstrações de obediência e humildade, coragem para pedir desculpas e se retratar, me fizeram conhecer a justiça de Deus de uma maneira íntima e profunda,e a forma como ele cuida de mim, das “minhas coisas”. Arrependimento: humilhar-se, voltar atrás, deixar de fazer o que estava fazendo, retratar-se, ainda que pareça “negócio fechado”, ainda que pareça “O que fulano vai achar?”…

Justiça. “Felizes os humilhados, porque um dia…”, entendi. Exaltado!