Deus. Política e Religião.

Difícil proposta, hã? Incluir na mesma conversa, como participantes, de um lado Deus, o que ele representa para nós, intimamente, e política e religião, propostas tão “cheias de verdades absolutas”. Mas vamos a ela, à esta tentativa de propor diálogo. Como ocorreu a iniciativa? Um amigo fez, a algum tempo atrás, uma afirmação um tanto desconcertante pra mim. Dizia ele que religião e política nunca deviam se misturar. Eu discordei ferrenhamente. Não porque não havia entendido o significado daquela afirmação (que só exprime o temor, o horror evocado na nossa memória quando lembramos de todas as vezes que alguém misturou esses dois “combustíveis sociais altamente inflamáveis” e pôs fogo na mistura), ou seja, ele estava incomodado com uma questão próxima, real e bastante coerente, mas não tinha em foco o problema em si. E desse modo me propus a ajudá-lo a enxergar este ponto de vista, na medida do possível.

Religião e política não podem ser dissociadas. Assim como política e psicologia, música  e religião, o fenômeno pop e a configuração da família, ou seja, tudo que é humano versus qualquer outra coisa ainda humana.

Mas para responder a esta questão básica preciso traçar uma fronteira. A fronteira entre Deus, na figura de Jesus (que nos é a mais íntima e chegada), e religião. E só recorro a um único argumento simples para estabelecê-la: A religião, toda forma de religião, é anterior ou posterior a Jesus? Sim, porque uma coisa é dizer que Jesus veio instituir a religião, ou que é seu patrono ou ícone. Isto é totalmente falso. A religião é anterior a Jesus. E inclusive, grande parte do seu empenho foi nos tornar mais lúcidos com relação a ela.

Sim, porque é nele, no seu “Life Stile” (ou estilo de vida, como diz um amigo) que eu deposito toda a minha confiança. Minha fé está firmada em sua afirmação quando disse “eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim”. Logo em seguida ele se levanta, cansado da teoria, e põe em prática aquele modo de viver de arrepiar, contrário a tudo que somos, ferrenhamente oposto ao “modo corriqueiro de viver” ou, como chamamos, “o modo mundano de viver”.

Minha fé não está, nunca esteve, fundamentada na religião, pelo contrário, uso minha fé como bem entendo para criticá-la, assim como faço com a política, a economia, a arte, a moda, enfim, tudo que minha consciência puder tocar, numa tentativa de humanizar estas experiências, torná-las saudáveis. E não vou dizer que quero divinizar nada, porque já quanto a isto não tenho condições. Humanizar sim, porque sou humano. Divinizar pertence a Deus, e somente isto peço diariamente: Senhor, não necessito que a religião seja divina, nem a política, nem a história, nem a economia. Quando chegar a hora, Diviniza a minha alma. E por enquanto, humaniza-me ao máximo.

Logo, quando digo que não posso comprometer meus princípios cristãos diante de qualquer coisa (política, inclusive), estou certo. Mas quando digo que não posso relacionar Jesus a qualquer coisa, estou enganado. Na verdade, o desconforto está em perceber que o que chamamos de “princípios cristãos” não são, ao contrário do que é dito, uma unanimidade pacífica. Há quem diga que levar as pessoas a votar em determinado candidato por esse ou aquele motivo, ditas “em nome de Jesus”, é um ato cristão. Sinceramente, estas discussões pra mim são completamente periféricas, superficiais e frágeis. Quando penso na Palavra “enganoso é o coração do homem, quem o pode sondar?” perco a coragem de defender ferrenhamente quem quer que seja. Quando medito sobre “Como rio de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR, que o inclina a todo o seu querer” percebo que a escolha deste ou daquele nome é indiferente, já que quando o Senhor quiser falar, ele o fará a quem quer que seja.  Toda a discussão perde o sentido e chegamos a lugar algum, porque estamos correndo atrás de respostas a nossas próprias inclinações políticas, tentando elevar nossa aspirante “análise sociológica do ideal de futuro humano” à categoria de “propósito divino”. Realmente, desde ponto de vista, Jesus e política são inconciliáveis. Assim como a religião e a política.

Quer conciliar religião e política? Longo caminho: humanizar essas duas feras sociais, promover o diálogo entre dois leviatãs furiosos em poder e inesgotáveis em argumentos sobre “quem é o melhor caminho para o sucesso da humanidade”. Nota: Talvez um pouco mais do conhecimento de Deus, verdadeiramente Deus, possa ser de grande ajuda na tarefa, logo, é possível o diálogo, conquanto Deus seja posto como mediador entre nós e qualquer coisa.

Quer conciliar Deus e Política? Tente partindo daqui: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Vejo pouco disso no movimento político-religioso de qualquer lugar do mundo (e se formos falar do passado e do presente, vamos ter que nos humilhar ainda mais pelos equívocos bizarros que cometemos e atribuímos a Deus). Talvez seja melhor, de fato, aprender a pilotar a motocicleta antes de empreender grandes viagens, ou seja, talvez seja melhor refrear o discurso e as tentativas, agir com prudência, como ensina a Palavra, para não ferirmos a “Vida em nome de Deus” que queremos preservar no processo de descobrimento do “modo correto”. Porque ainda somos crianças. E só tendo consciência, assumindo esta nossa infantilidade diante de Deus, entendendo que ainda o estamos conhecendo (e estamos longe do completo entendimento), poderemos atingir o “Reino dos Céus”. Concluo, crendo que a causa dos nossos sucessivos insucessos está NÃO no antagonismo radical entre Deus e qualquer coisa (e consequentemente entre Deus e política, Deus e diversas religiões), MAS SIM na dificuldade que ainda temos em conciliar a mente de Deus, a verdade oculta de quem Ele realmente representa para nós, quais são seus propósitos, quem Ele realmente É, à  nossa vida, integralmente, na condição de Homens. Seja na figura de Políticos, Religiosos, ou o que quer que seja.

 

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