À Beira do Poço

Mais uma vez aquela mulher retornava ao poço da sua alma. Mais uma vez ela iria inclinar-se com dificuldade sobre seu vazio existencial buscando erguer de lá de dentro algum significado, algum conteúdo. Sua alma: poço de águas tão profundas. Mas ela habituou-se a isto: ao sacrifício de Ser, à sede diária.

 Quem é este que espera à Beira do Poço? O que ele procura?  “Minha alma é profunda demais e você não tem como chegar até ela”, murmura pálida de esperança a mulher. Ela comete o principal engano da humanidade: orgulhosamente diz que sabe mais de si do que Deus o sabe. Ele responde a ela com um enigma profundo, sua voz ecoa no interior do poço escuro, praticamente seco:

 Se você verdadeiramente soubesse quem te pede “alma”, se você verdadeiramente entendesse, é você quem estaria clamando agora. Então não seria mais um poço vazio, sedento, mas uma fonte de águas vivas que jorram para a eternidade. Ao ouví-lo, instantaneamente, ela sentiu o interior agitar-se: Havia vida naquelas palavras. O poço voltava a minar água, lentamente, duma água viva. Transformada, ela ergue-se e passa à diante, para anunciar a todos o que havia visto e ouvido: sua Alma transbordava.

“Quem é este que espera à Beira do Poço ?”

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